PARA
Serpentes deslizam
pelas minhas pernas
dos rins
até às virilhas
frescas extensas
deslizantes serpentes
sem sibilarem
pelas minhas ancas
Eu sei
não é verdade
porque estou na cama
e me quero levantar
mas não consigo
todo o meu corpo
paralisado e fundido
com o cobertor
os lençóis maricas
Eu sei
que não é verdade
Eu sei
que não é verdade
lá fora o sol
tacteando pelas nuvens
mas não se mexe
e essa por isso que
está escuro
na escuridão
a balbúrdia governa
Não suporto a balbúrdia
depois as estrelas
são um obstáculo e eu não
gosto disso
Eu sei
que não é verdade
Eu sei
que não é verdade
É culpa do calor
neste calor ninguém
consegue
respirar normalmente
os peixes têm o mesmo
problema
Eu sei, eu sei
existem raízes a nascer
nas minhas costas enquanto
parece que não me consigo
mexer
um corpo quer comida
e um corpo tem sede
é bom
ter raízes
elas vão encontrar
encontrar fluídos.
© Tjitse
Hofman, 1999
© translation
Carla Mirandes, 1999
original title: Para, from TV 2000, Passage
Publishing Company, Groningen, 1999